segunda-feira, agosto 09, 2004

À 3ª não foi de vez

De passagem por um hipermercado, verifico que existe uma secção com saldos de discos. Não resisto, apesar de saber antecipadamente que me vou arrepender de perder o meu tempo: porque nunca há nada que interesse, porque o que vale a pena eu já tenho e vai irritar-me encontrar por metade do preço e, acima de tudo, porque vou acabar por levar alguma coisa que não vale de facto a pena.

E assim foi: por 5€ trago o último CD do Maxwell, Now (2001). Tenho acompanhado o seu trabalho desde Urban Hang Suite (1996) por considerar que dentro da geração dos cantores apostados na revitalização da soul, Maxwell é o que tem melhor voz e um dos que apresenta os arranjos mais inovadores, em grande parte fruto da parceria com Stuart Matthewman (aka Cottonbelly), um dos responsáveis pela obra-prima de Sade (Diamond Life, de 1984). Já tinha escutado Now na altura em que saiu, mas pareceu-me demasiado polido e MTV-friendly. E não me enganei: o disco nada acrescenta, antes retira, aos anteriores. Os arranjos são muito mainstream, simples (mas infelizmente também simplistas), a edição da voz de Maxwell perde eficácia quando comparada com as conseguidas polifonias dos discos anteriores e a matéria-prima (canções) é bastante menos inspirada.



Ao 3º disco de originais, Maxwell tinha obrigação de fazer melhor. Se é verdade que nenhum dos anteriores era uma obra-prima no seu conjunto, pelo menos cada um deles continha uma peça clássica: o 1º tinha 'Till The Cops Come Knockin' e o 2º (Embrya, 1997) tinha várias, mas sobretudo 'Gravity: Pushing To Pull', momento único de inspiração absolutamente sobrenatural, pela orquestração e trabalho sobre a(s) voz(es) de Maxwell. Apesar das baixas expectativas, esperava mais um clássico de calibre semelhante (é certo que ainda assim vale a pena esperar pela última faixa 'Now/At The Party' para um competente groove, seguramente saído da guitarra de WahWah Watson). Darei o benefício da dúvida a Maxwell uma vez mais, mas só compreendo este passo em falso (que ainda por cima mantém a mesma equipa dos trabalhos anteriores) pelo bom desempenho nos tops (afinal também compreendo que os artistas têm de comer). Por enquanto, recomendo que se continue a ouvir os discos anteriores, mas particularmente Embrya, no qual Maxwell esteve muito próximo de assinar a obra-prima definitiva do apregoado nu-soul.

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