terça-feira, agosto 10, 2004

O filme de uma banda sonora

Normalmente é exactamente ao contrário: uma banda sonora para um filme. Mas os Troublemakers resolveram inverter a ordem. O 2º disco do trio de Marselha contém um filme para uma banda sonora: aliás, Express Way está devidamente acomodado em DVD como anexo ao CD. Não falo sobre o filme, porque não merece a pena (aliás, nem o consegui ver até ao fim). Mas a música (a tal banda sonora) é deslumbrante. Já no primeiro disco (Doubts & Convictions, de 2001) os Troublemakers apresentavam uma depuração estética que convocava o universo cinéfilo (indo ao ponto de samplar a voz de Robert de Niro em Taxi Driver, na sublime 'Black City'), mas Express Way leva o assunto ainda mais a sério. Os materiais utilizados no 1º disco (funk, hip-hop, jazz, soul, house, bues, clássica) são desta vez potenciados em favor de uma coerência cénica ainda mais apurada, para o que contribuem vozes soul e hip-hop em diversas faixas. Pelo caminho, aproveita-se para render honestas homenagens a Billie Holiday (que parece assinada por Serge Gainsbourg) e Lester Young e, de boleia, dar mais um contributo decisivo para a ciência do rare groove.



Pode afirmar-se que, não fossem os Troublemakers, a cena francesa teria desparecido com o mesmo fulgar com que despontou há quase 10 anos atrás, trazendo ao mundo as obras-primas de St Germain, Motorbass, Gotan Project ou mesmo Ready & Made, Alex Gopher e a editora Comet de Doctor L. O tempo dirá se se deverá continuar a considerar Doubts & Convictions como a obra-prima dos Troublemakers, mas Express Way é um facto estético de relevo e coloca-os no restrito grupo dos projectos actuais que conseguem gravar o 2º registo sem o proverbial passo em falso.

Sem comentários: