domingo, agosto 08, 2004

O genérico da novela

Há surpresas incríveis... Já há algum tempo que tinha reparado que a novela da noite da SIC ("Celebridade") tinha uma escolha curiosa para genérico. Custava-me a crer que o instrumental em causa fosse recente; com efeito diria que seria uma faixa recuperada do final dos anos 70/início dos anos 80, na linha da orquestras da Salsoul, mas mais radio-friendly.

Na outra semana, estava a colocar em dia as audições de meia dúzia de discos que sazonalmente encomendo da Amazon. Começo por uma colectânea do Barry White e - para meu espanto - brota-me das Revolver o genérico da novela, as is! Porra, saio da sala em protestos para me livrar do pincel do costume e sai-me logo isto na rifa!... Para os ignorantes como eu: é o 'Lover's Theme' (1974) da Love Unlimited Orchestra, ensemble alter-ego criado pelo maestro White.

Barry White é uma figura curiosa. Julgo que antes da série Ally McBeal e aquela coreografia nonsense para o tema 'You're The First, The Last, My Everything', poder-se-ia dizer que era mais conhecido do que ouvido, apesar do sucesso massivo que teve nos idos 70. Há muito tempo que venho adiando a compra de um disco dele: tinha a convicção que alguns dos primeiros trabalhos valiam a pena, mas nunca consegui perceber muito bem por qual disco começar. E quando assim é tem de se cometer o pecado de ir pela colectânea. E também não posso dizer que me saí mal: All-Time Greatest Hits é uma colectânea de 94 (na colecção Funk Essentials da Polygram) que não comete o erro das compilações mais recentes, que abordam também os anos 80 e 90. Esta fica-se pelas versões edit dos singles do anos 70 e fica muito bem.



White podia não ter a sensibilidade genial de Marvin Gaye, mas abordava o tema do sexo com a mesma honestidade explícita. Fartas orquestrações, arranjos luxuosos e uma voz que em si não é 5-estrelas, mas que compensa na forma de cantar, fazem de White uma audição válida para todos os devotos do som de Filadélfia (Gamble & Huff à cabeça) e do espólio da editora Salsoul. Tirando 2 ou 3 faixas em lógica de piloto automático, o disco é uma boa banda sonora para as quentes noites de verão, recuperando o glamour que hoje faz falta na maior parte da produção actual. E "What Am I Gonna Do With You", desta vez a homenagem de White à sua Lady Music, é puro "soul de cetim".

Sem comentários: